terça-feira, 28 de outubro de 2014

Em cena

 

      


Foi preciso as cortinas fecharem para que eu aprendesse a valorizar os pequenos detalhes e me libertar de outros ainda menores.Aquela que estava sempre metida num enredo de filme,agora só quer ser personagem de si mesma.Não acho mais a vida vazia por viver minha própria realidade e aliás,não sei como não tinha reparado no quanto ela segue um roteiro fantástico mesmo sem um par de olhos verdes galanteadores.Aprendi que foi-se o tempo que uma grande obra dependia de um casal apaixonado.Cansei de decorar milhões de falas que me calam por dentro e de encenar um drama que não me cabe mais.Você ficou paralisado num trecho qualquer,sem fala,sem close,sem desfecho.

Eu sou o meu próprio espetáculo, acompanhado de permanente elenco.Personagens insubstituíveis,que entram em cena ao meu lado, com casa cheia ou sem plateia,em meio a vaias ou aplausos.Pessoas absolutamente sem igual,capazes de preencher cada pedacinho que me falta nesse coração de covinhas.É esse elenco que listo à caneta,sem medo de errar e é por ele que honro no peito, a bravura de ser exatamente quem sou.

Se lhe perguntarem como vão os meus dramas, diga que não faz ideia,pois não passou de um mero figurante nesse meu compor.Sigo livre de tudo que é mais bonito na lembrança, e que eu teimava em manter em cena,só pra seguir o roteiro que eu mesma criei.Sigo atriz,sabendo a hora certa de falar e calar,de entrar e sair do palco,de roubar a cena e ganhar o público.E sigo autora,escrevendo a vida, selecionando minha equipe e celebrando o papel que me foi imposto nesse teatro da vida, que é simplesmente ser eu mesma.