quarta-feira, 16 de junho de 2010

Desconexão

Me chamou de pequena e partiu. Por não saber ser vil,mal conseguiu parecer viril.Mal me viu.E foi,sem culpa.Não houve um contrato,afinal.Houve companhia boa,elegância e leveza nos detalhes.Vinho bom,papo agradável e expectativas correspondidas.Houve os momentos singelos de cócegas,brincadeiras,sorrisos e  séculos sem fim ao telefone, dando a essa relação sem nome uma intimidade falsa.Revelaria a lista de todos os apelidos que sugerimos um ao outro de forma carinhosa e divertida.Intimidade simulada.Houve gentileza,surpresa e conquista.Cavalheirismo é para poucos,ou melhor,poucas.É preciso ser mulher para casar,o que muitos-e muitas, confundem com mulher para lavar,passar e aceitar.A mulher para casar tem vida própria,e um quê de mistério.A mulher para casar desperta o interesse,e como todo interessado ele dá seu jeito de passar de ogro para lord sem muito embaraço.E eu declararia aqui todas as coisas que aprendi sobre mulheres para casar nos quatro livros de auto-ajuda os quais li nas últimas semanas,se não quisesse falar de você.
Houve magia,frio na barriga,e algumas negligências.Super básico.Mais fácil resolver um cubo mágico do que a cor da nossa amizade.Impetuosa,frenética,intensa einconstante  que sou não tenho aptdão para suportar coisas mornas.Mas me deslumbro com doçura,piadas bobas e jeito moleque.
Meu inferno astral veio à tona depois que voltamos à nossas atividades habituais,ao foco em nossos objetivos.Se eu admitisse mesmo essa coisa toda de astrologia iria dizer no auge da minha fé que você foi meu querubim.Mas na real,você foi só mais um amuleto da sorte durante todo esse tempo de conexão,desconexão e reconexão.
Danado,copiou fácil meu manual de instrução.Sim,porque era preciso de um para saber fazer durar aquele arrepio agudo que chega a doer na espinha,pé com pé e mãos assustadoramente derretidas,sem falar do saudoso cheiro que seu perfume epidérmico sugere.
 Balairina guardada na sua caixinha de música,mantenho-me cautelosa,solícita e consciente.Desconectados e fora de sintonia,nos vemos por aí.
Você não soube ser mais sólido,você não conseguiu ser mais inóspito ,embriagado de tanta afabilidade quase que automática.Você não soube ser mais viril,simplismente não soube ser mais.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sobre as meninas puras e suas famílias conservadoras

A história se repete e vem se alastrando desde o trágico fim do digno clássico literário Romeu e Julieta.Ela tem o péssimo hábito de estender-se gradualmente em torno de um ponto central: as princesas mais encantadoras,nobres e castas,acompanhadas de suas famílias impiedosamente conservadoras.
É assim,ela já nasce de brincos e aconchega-se no berço cor-de-rosa com branco com seu nome gravado dos lençóis à porta.Avós e tios sufocando-a de presentes e mimos e de uma horrível paranóia de cuidados exagerados. ''Buáá!'',a little darling já conclui daí : '' socorro,cilada!''. A pequena é guardada dentro da famosa bolha protetora.Torna-se frágil,acomoda-se.Mas um dia, querendo ou não,Alice cresce e o país das maravilhas fica tedioso demais para ela.É aí a parte não mencionada nos contos de fadas,a parte que a bolha estoura.Vem,então, à tona sua incontrolável ânsia que surge da fome por um apetitoso prato deliciosamente chamado liberdade.E seus desejos até então podados,direcionam-se ao proibido.Se você não quer que alguém sinta loucamente vontade de algo,então não torne-o proibido.A proibição é um tempero a mais,que deixa o prato ainda mais desejado;água na boca.
Amor proibido é tentador,não acham? tem gosto especial,um quê de quero mais,etc e tal.É covardia querer manipular o coração de alguém.Covardia é opor-se  ao desejo mais puro que uma princesinha tem : amar.Mas falo de covardia de verdade, não porque Romeu e Julieta foram impedidos de viverem felizes para sempre.Um dia eles iriam se casar,Julieta ficaria irritada com a toalha largada na cama,a tampa do vaso sempre levantada e o fato de Romeu saber de cor a escalação do seu time favorito,porém nunca recordar-se da data de aniversário de casamento.Romeu ficaria maluco com a TPM de julieta,com o cartão de crédito estourado e com as horas que ela passaria se aprontando frente ao espelho.Amor proibido.É tudo muito lindo,''Hollywoodianamente'' perfeito.Muito bonito,romântico e muito Manoel Carlos.Proibir um amor água-com-açucar é covardia mesmo,mas pior que isso é estabeler um amor proibido entre a princesinha da casa e seu (não tão seu assim) cobiçado prato de liberdade.No fim de tudo você considera que os pais também erram e são até covardes.''São crianças como você...'',e provavelmente são o que você vai ser quando você crescer. E conclui que se você é a boneca da casa a situação se agrava.Porque quando era você que manipulava sua boneca,você nunca acordou um dia e deu de cara com a própria de minissaia,cabelo mechado e rímel borrado, chegando sabe-se lá de onde com as sandálias na mão enquanto se arrastava até a cozinha para preparar suas torradas.Conclui que agiria um tanto ou exatamente igual a seus pais se visse sua boneca se transformando assustadoramente.Conclui que os pais também tem suas falhas e fraquezas e precisa perdoá-los por isso.
Mas enquanto não entende a incompetência dos meus conselhos  provindos de minha própria experiência errante,acredite que toda bolha possui uma película finíssima demais para resistir eternamente;que não há mal que dure para sempre;que não há mal que não traga  um bem e disso,ah disso não duvide: você vai rir de tudo isso.
Enquanto isso a velha história shakespereana se repete e trás de volta Romeu e Julieta aos tempos modernos,a Dama e o Vagabundo,a Princesa e o Plebeu...porque de certo até as princesas mais corretas e tradicionais vão conseguir resistir a tudo,menos a uma TENTAÇÃO.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Vai um gelo no café?

 
Vem aqui,puxe a cadeira.Chame o garçom e peça duas xícaras;mesa pra dois;e cartas,por favor.Sim,eu disse cartas.Não,não na manga.Sobre a mesa;aqui;agora.Não quero queimar a língua,mas gelo no café não me agrada.É só tomar devagar,aos poucos.Aliás essa é a graça de uma xícara de café quentinho: apreciar cada gole.Com cautela,com cuidado,com classe.Detesto,não aturo coisa morna.Então senta aqui,ou é quente ou é gelado.Bora lá,não amola;não enrola.Ninguem aqui é mais criança pra brincar de pique-esconde.Ninguém aqui é mais uma pilha de incertezas pra ficar no zero a zero.Vamo lá,jogador,ou faz o gol,ou dá uma de juíz e apita o último segundo:só um pouco mais alto,faz favor.Buut,remember:quem faz as regras do jogo não és tu,então não dê bola fora ou cartão vermelho pra você!Reticências não me atraem.Meio termo me tira o sossego,me faz frenética mais do que o de costume,o que me deixa fora do tom, fora de si,fora de moda.Então,vem,senta aqui que o tempo fechou.Pede um café pra esquentar,você sabe que frio me incomoda.Você já sabe a maioria das coisas que me desagradam e me tiram o sono.Quase uma lista gigantesca sem fim de itens intoleráveis pela minha personalidade ora pacífica,ora tempestuosa.
Ok,vamos jogar.Mas com todas as cartas sobre a mesa,essa é a condição número um.Cabe a você conseguir a proeza de aquecer meus pés gelados -por baixo da mesa.O coração idem.E quando o sol se abrir,quem sabe,sorvete outra vez até cai bem.